Poesias

Canto dos moinhos ascendentes

Nada no mundo está determinado. De tudo sofrer,
é que te alegrarás; de tudo esperar, é que acharás;
de tudo suportar, é que libertarás das manhãs
que se levantam de ti, o fervor mais alto, o que há
de resgatar a perda - e com ela, nova paixão.
Saberás que em ti a semente não é a flor,
mas a razão da flor, a mesma razão que alimenta
os pássaros no fervor das manhãs; que o homem
não é dor, mas passagem dessa dor precária
que o arrasta de roldão, dos limiares para a felicidade.
Saberás que em ti a flor é razão do fruto.

De tudo duvidarás com a alegria desafiante
de quem nada exclui, pois é na terra fértil
das dúvidas que termina a dúvida primeira
das últimas verdades, e que só podes agarrar
depois que passam.. E quem pode dizer em que grau
arde, arde bem pouco no óleo das horas.

Sofrer mais do que se pode suportar
é aprender a humilhar a dor até solver-se
a carne na carne, clarear-se o escuro na luz,
e exausta a dor, libertar-se no espírito.
Lutando saberás que não há derrota possível,
nem temerás a coragem que espera em ti, e grita
e alumia sobre o que é e o que há de ser, o gozo
depois da grande dor, a alegria em rebentos de sol,
pois tudo passa, e dentro de tudo a alma-em-flor
é tua casa, respira em ti, e canta num só cálice a Vida.
Nada deixes calar, nem o anjo e seu fervor, nem a palavra.


24/05/2011

 

 

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